Quantas vezes você já sentiu que estava falhando por não conseguir seguir uma rotina, manter um hábito ou ser “disciplinada o suficiente”?
Talvez você tenha começado a semana com as melhores intenções. Acordar cedo, se alimentar bem, praticar algum exercício, meditar, trabalhar com foco. Você anotou tudo bonitinho no planner, colocou alarme, fez até um mantra. E aí veio o dia real com sono acumulado, preocupações, mil pensamentos, corpo cansado.
E, de repente, você não conseguiu cumprir aquilo que tinha planejado.
E veio a culpa.

“Por que eu não consigo manter nada que começo?”
“Eu só preciso ter mais disciplina.”
“Preciso me esforçar mais.”
“Eu não sirvo pra isso.”

Esses pensamentos surgem como se fossem soluções, mas muitas vezes eles só alimentam um ciclo de frustração e autossabotagem.

E é aqui que eu quero te dizer algo que pode parecer contraintuitivo, principalmente vindo de mim que falo tanto sobre hábitos, organização e vida com propósito:

Você não precisa de mais disciplina.

Você precisa de mais acolhimento.

Sim, a disciplina tem seu lugar. Ela é uma aliada poderosa quando está a serviço do nosso bem-estar. Mas o que poucas pessoas falam é que não é possível ser disciplinada quando o sistema nervoso está em alerta, em modo de sobrevivência, sobrecarregado emocionalmente.

Afinal, como criar uma rotina se tudo dentro de você está em colapso?

Vamos entender o que está acontecendo com você de verdade?

Imagine que sua mente e seu corpo são um sistema interligado o que, de fato, são. Quando você passa por momentos difíceis, crises de ansiedade, instabilidade emocional, luto, estresse ou simplesmente uma sequência de dias intensos e mal dormidos, seu sistema nervoso entra em modo de sobrevivência.
Isso significa que ele está tentando te proteger. E como ele faz isso? Cortando tudo o que não é essencial para a sobrevivência imediata.

Ele desliga a criatividade, o foco, a energia. E foca em te manter de pé.

Então, quando você tenta se forçar a seguir uma lista de tarefas, iniciar uma rotina matinal cheia de passos, manter hábitos complexos ou impor uma produtividade irreal, você está exigindo mais de um corpo e de uma mente que já estão exaustos.
É como exigir de um celular com 1% de bateria que ele rode um aplicativo pesado. Vai travar. Vai desligar.

E aí, no lugar de acolher essa necessidade de pausa, você se cobra mais.
E esse é o verdadeiro problema.

Disciplina como ferramenta de autocobrança

Muita gente aprendeu que disciplina é sinônimo de força, de sucesso, de vencer a si mesma.
E sim, a disciplina pode ser linda, poderosa, transformadora.
Mas quando ela vem de um lugar de autopressão, ela se transforma em uma faca de dois gumes.
Ao invés de te levantar, ela te derruba.

Você começa a acreditar que só será digna de amor, de descanso, de realização, se fizer tudo certo.
Se acordar cedo.
Se não falhar.
Se não procrastinar.
Se for impecável.

E isso não é disciplina , isso é punição.

A disciplina real, que funciona de verdade, é aquela que nasce do cuidado.
É a que diz:
“Eu me amo tanto que quero construir uma vida mais leve.”
“Eu me respeito tanto que escolho o que me nutre.”
“Eu me priorizo tanto que faço escolhas com consciência.”

Essa disciplina é suave. É constante. É gentil.
Ela não grita. Ela sussurra.

Seu corpo precisa se sentir seguro antes de agir

Você já reparou como é mais fácil seguir uma rotina quando está tudo bem? Quando você está descansada, alimentada, emocionalmente estável?
Isso acontece porque o corpo precisa se sentir seguro para funcionar com fluidez.
Segurança aqui não é só física,  é emocional.

E segurança emocional se constrói com autocuidado.

Com pequenas pausas.
Com limites saudáveis.
Com conversas sinceras com você mesma.
Com rituais que te devolvem para o presente.

Então antes de tentar se forçar a seguir uma planilha, um cronograma ou uma nova rotina matinal…
Pergunte:
“Como eu estou me sentindo hoje?”
“O que meu corpo está precisando?”
“Essa rotina que estou criando é a favor de mim ou contra mim?”

Essas perguntas mudam tudo.

Disciplina não é sobre rigidez. É sobre consistência gentil.

Se tem algo que eu aprendi na prática, e com tantas mulheres incríveis que acompanho, é que ninguém se transforma com chicote na mão.
Mudança verdadeira acontece com amor.

Você não precisa de mais regras.
Você precisa de mais escuta.

Você não precisa ser produtiva todos os dias.
Você precisa respeitar seu ritmo.

Você não precisa seguir uma rotina perfeita.
Você precisa se sentir bem dentro da sua vida.

Ser disciplinada não é ser perfeita.
É só ser consistente com o que faz sentido.

Consistência gentil.
É disso que você precisa.

Como começar esse caminho com mais amor?

Aqui vão alguns lembretes e práticas que você pode adotar hoje, sem culpa, sem cobrança:

  • Acolha onde você está agora. Antes de mudar, aceite. Aceite seus dias difíceis, suas falhas, seus erros, sua bagunça. Ela não define quem você é.

  • Escolha um hábito só. Ao invés de tentar mudar tudo de uma vez, escolha um micro-hábito. Algo que te faça bem e que seja fácil de repetir. Um copo d’água ao acordar. Três minutos de respiração antes de dormir.

  • Crie um ambiente de apoio. Às vezes o problema não está em você, mas no que está ao redor. Desorganização visual, excesso de estímulos, redes sociais sem filtro. Olhe para o seu entorno.

  • Valide o seu esforço. Mesmo que você tenha feito pouco, reconheça. O pouco de hoje é a semente do muito de amanhã.

  • Tenha rituais, não obrigações. Chamar de ritual muda a energia. Não é sobre “eu tenho que”, é sobre “eu escolho cuidar de mim”.

  • Se perdoe com frequência. Vai ter dia que não vai dar. E tudo bem. A autocompaixão é parte da disciplina real.

Um lembrete final

Você não é fraca por estar cansada.
Você não é preguiçosa por não dar conta de tudo.
Você não está errada por não conseguir manter uma rotina perfeita.

Você está vivendo.

E viver, às vezes, é mais sobre se acolher do que se corrigir.

Você é a pessoa mais importante da sua vida.
Comece a se tratar como tal.
Não com rigidez, mas com carinho.
Não com cobrança, mas com cuidado.
Não com mais disciplina, mas com mais amor.

E aí sim, a disciplina virá. Mas virá como consequência de um corpo em paz, de uma mente serena, de um coração seguro.

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